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Primeiro Transplante Renal em Hospital Privado no Brasil

Transplante Renal

Primeiro Transplante Renal Em Hospital Privado No Brasil

PRIMEIRO TRANSPLANTE RENAL
EM
Hospital privado no brasil
BENEFICENCIA PORTUGUESA, SP – 1968
Fonte
Fragmento do Memorial do
Prof. Irany Novah Moraes

PROGRAMA DE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS
O planejamento e a implantação de um Programa novo, seja ele na área que for e de qualquer natureza, desde que realmente avançado, traz em si forte contingente de progresso. Este beneficia o conjunto, de múltiplas forma?, e a cada integrante de maneira específica.
Acreditando que a experiência em transplante de órgãos, pela sua natureza progressista e muito moderna, traga embutida em si própria, refinamento da qualidade de trabalho de um grupo; acreditando ainda que a operação de transplante renal tem, no’tempio cirúrgico vascular, seu contingente mais nobre, a implantação de um Programa dessa natureza traz, conseqüentemente, grande aprimoramento para um Serviço de Cirurgia Vascular. •
Imbuído dessa idéia e após várias reuniões com o Prof.Dr. Roland Véras Saldanha, ficou estabelecida a conveniência de se organizar um Grupo de Transplante Renal e foi escolhido o Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Consultado na época o Presidente da Diretoria Administrativa,
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o Comendador Abílio
administrativas e técnicas do Hospital bem como arcando com as despesas hospitalares.
Em 1968, constituiu-se o grupo disposto a desenvolver o referido Programa reunindo três equipes: Cirúrgica, Nefrológica e Urológica, sob a responsabilidade de Irany Novah Moraes, Roland Véras Saldanha e Samir Seraphim, respectivamente.
A Equipe Cirúrgica contando com a participação dos Drs. José Joaquim Gama Rodrigues, Massaiuki Okumura, Oswaldo Ubríaco Lopes, Pedro Nahas, Bonno van Bellen, Wolfgang Zorn, João Gabriel, Jobel Camargo Simões.
Equipe Clínica – Roland Véras Saldanha, Thomás Ribeiro e Almeida, Anita Leme da Rocha, Rildo Véras, Maria Margarida Galvão.
Equipe Urológica – Samir Seraphim, Francisco Barbosa de Barros, Guilherme Cleber Marconi.
Equipe de Anestesia – O Serviço de Anestesia da Beneficência Portuguesa integrou a equipe acompanhando passo a passo todas as demarches dos trabalhos de planificação e preparo do Programa.
Serviço de Hemoterapia – O Banco de Sangue da Beneficência Portuguesa participou do Programa prestando colaboração integral.
O Serviço de Enfermagem esteve sempre presente, e a irmã responsável pela Enfermagem participou de todas as reuniões administrativas do Grupo, colaborando da melhor maneira possível.
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Preparo das Equipes
O preparo das Equipes foi feito através de intenso estudo individual e em grupo, sobre preparo do receptor, conveniência ou não da nefrectomia bilateral, seleção dos doadores, tempos vasculares de implantação de órgãos, implantação do ureter na bexiga, imunologia, tipagem de tecidos, rejeição e controle, preservação de órgãos, perfusão e hiperbaria. Outros temas foram cuidadosamente tratados como: diagnóstico de morte encefálica, conceito de coma irreversível, aspectos médico-legais que envolvam o doador cadáver e o doador vivo.
Com a colaboração do Engenheiro Sérgio Novah Morais estudou-se intensamente o sistema PERT que é o Programa de Avaliação de Pesquisa e Tarefa para operacionalizar racionalmente o trabalho e assim garantir o menor tempo cirúrgico.
A tipagem de tecidos ficou a cargo do Dr. Francisco Antonácio e Dr. Wolfgang Zorn.
Um módulo hiperbárico foi projetado e construído pela Caldeiras Pontin para eventual transporte de órgãos de um hospital para outro, em condições menos adversas de isquemia.
O treinamento das equipes foi feito em operações em cadáver, no Instituto Médico-Legal do Estado e, em cães, na Técnica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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Primeiro caso de transplante renal
O primeiro transplante foi feito em 3 de agosto de 1968 com doador vivo da clínica particular do Prof. Roland Véras Saldanha. Na ocasião, ele tinha vários doentes em programa de hemodiálise, sendo que alguns com indicação formal de transplante quando, então, apareceu um paciente com hipertensão renovascular por defeito de vascularização de um dos rins. Estudou-se arteriograficamente e chegou-se à conclusão de que seria viável uma utilização daquele órgão e que o receptor seria beneficiado, mesmo ficando com hipertensão. Feita a tipagem dos vários doentes, um deles apresentava elevado grau de histocompatibilidade. Assim, nesse doente, foi feito o primeiro transplante.
A operação ocorreu em 3 de agosto de 1968, no Hospital da Beneficência Portuguesa e foi documentado em filme pelo cinematógrafo B J. Duarte.
Posteriormente, a Casa Sahdoz do Brasil patrocinou a produção do filme que recebeu o título “Transplante Renal”.
Evolução do Programa
– Doadores –
Na evolução do Programa, um dos candidatos a transplante renal tinha doze irmãos como doadores em potencial. O fato deles morarem no interior de Pernambuco tornava a seleção difícil. Recorreu-se à Aeronáutica
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e o comandante da Base Aérea de São Paulo, Brigadeiro Pavan, criou todas as facilidades para que o Dr. A.C. Pereira Barreto fosse ao sertão daquele Estado fazer a tipagem sangüínea dos pretensos doadores.
– Soro Antilinfocitário –
Em abril de 1969 estabeleceu-se correspondência com o Dr. V.P. Eijsvoogel do Centraal Laboratorium van de Bold transfusiedienst van het Nederlandesche Roode Kruis – Amsterdan, dirigido pelo’Prof.Dr. J.J. van Loghem e, após o Congresso de Haia, visitamos o laboratório do Dr. Eijsvoogel e fez-se convênio pelo qual a linfa enviada seria retribuída com soro antilinfocitário.
Para a remessa de linfa à Holanda obteve-se autorização da Cacex e todos os domingos um fiscal comparecia no Aeroporto de Congonhas para liberar a linfa coletada nas 72 horas anteriores.
O Laboratório Organon, dirigido em São Paulo pelo Dr. Luisch, facilitou o intercâmbio para enviar a linfa à Holanda e para trazer o soro antilinfocitário, graças à KLM.
Participação em Congressos
Em 1968, Irany Novah Moraes e Roland Véras Saldanha compareceram ao “Second International Congress of the Transplantation Society” em Nova Iorque (Doc. 312). Na ocasião, além de assistir a todas as reuniões possíveis, houve a possibilidade de conhecer pessoalmente Sir Peter
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Medawar (Prêmio Nobel nascido no Brasil) que participava ativamente do conclave.
Em 1969, Irany Novah Moraes e Roland Véras Saldanha compareceram ao “IVth International Congress of Nephrology” em Stocolmo (Doc. 313). Estava inscrito o filme “Transplante Renal” e que, por dificuldades alfandegárias, não foi liberado na Suécia.
Em setembro de 1970, o Dr. Irany Novah Moraçs compareceu ao ’5rd International Congress of’the Transplantation Society” em Haia, onde apresentou o filme “Transplante Renal” (Doc. 105).
Em novembro de 1970, os Drs. Irany Novah Moraes, Bonno van Bellen e Wolfgang Zorn apresentaram o filme “Transplante Renal” no “X Congresso Latino Americano de Angiologia e I Congresso Uruguaio de Angiologia”, realizado em Montevidéo (Doc. 106).
Repercussão do Programa
A feitura do transplante de rim na Beneficência Portuguesa foi, na época, assunto de imprensa leiga. Várias notícias foram publicadas pelo fato da ocorrência, fora’de Hospital Escola, ser inédito. Algumas das notícias vão aqui transcritas:
– Revista “Manchete”, 6 jul. 1968, p.49-50 (Doc. 1030).
Resumo: A reportagem sobre diversos médicos e suas especialidades, refere-se entre eles ao Dr. Irany Novah Moraes, chefe da. equipe
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do transplante renal, realizado na Beneficência Portuguesa, que declara: “A técnica e a tática adotadas, a utilização de material de suturas e os conhecimentos de fisiologia para angiologia foram as causas dos sucessos dos transplantes. As artérias foram os primeiros transplantes a serem utilizados, correntemente. O transplante de rim exigiu uma fase intermediária, com a idealização do rim artificial que mantém vivo o candidato a transplante. Da mesma forma o coração, antes de ser transplantado, passou pela fase do coração-pulmão artificial e do próprio ventrículo artificial11.
Transplante de rim no Hospital da Beneficência Portuguesa – Folha de
S.Paulo, 4 ago. 1968 (Doc. 1031).
Beneficência faz Transplante – O Estado de S. Paulo, 4 ago. 1968, p.29
(Doc. 1035).
Pernambucano passa bem com novo rim-‘Folha de S. Paulo, 5 ago. 1968
(Doc. 1034).
Resumo: Notícia detalhada sobre o transplante renal realizado pela primeira vez em hospital particular, a Beneficência Portuguesa.
Os Transplantes de Rim – O Estado de S.Paulo, secção dos Leitores, 14 jul.
1969, p.20 (Doc. 1032).
Bonno van Bellen – “Estudo Linfográfico do Dueto Torácico em Portadores de Ascite” – Tese de Doutoramento – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – 1973.
Esse mesmo Programa deu como resultado a elaboração do filme científico “Transplante Renal”, apresentado em Congresso Internacional referido em outra parte deste Memorial.
O filme “Transplante Renal” correu o BrasH- e, desde a sua produção foi projetado para mais de 5.000 pessoas em quase todas as Capitais do País, em Faculdades de Medicina, nas Sociedades Médicas e em Hospitais-Escola (Doc. 1040).
Em 1988, foi projetado no Curso de Cirurgia Vascular patrocinado pelo Centro de Estudos do Hospital Jaraguá e Academia de Medicina de São Paulo, em 11 e 12 de julho, no Programa de Residência Médica do Hospital Jaraguá.
Atualmente o filme, transformado em vídeo cassete, é projetado anualmente para Residentes e em Cursos de Cirurgia Vascular, para demonstrara feitura de suturas arteriais e venosas especiais.

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